Mídia / Jornal Fera

Professora dribla greve e dá aula embaixo de árvore na periferia de Maceió

18/08/2015

A professora de artes Luana Macena de Melo, da escola pública Eunice de Lemos Campos, na periferia de Maceió, decidiu não aderir à greve dos professores do Estado e, diante das dificuldades em dar aulas, passou a ensinar os alunos embaixo da árvore em frente ao prédio.

Luana diz que, desde o início da paralisação de professores e servidores da educação, em 16 de julho, tem encontrado, por vezes, a escola fechada. A unidade fica no bairro do Benedito Bentes, o maior da capital alagoana.

"No dia 29 de julho, os alunos só puderam entrar às 14h15, e aula começava a 13h. Isso me incomodou. Já no dia 4 de agosto, não apareceu ninguém e tive que liberá-los. O ônibus escolar deles foi suspenso, então eles vinham a pé, de bicicleta, de todos os lugares, e fiquei muito chateada. Fiquei imaginando que se eu fiz esforço para ir, eles fizeram mais e merecem ver aulas", contou.

Para dar aulas, ela diz que arrumou equipamentos emprestados. "Usei um projetor multimídia, um notebook, uma bateria de carro e um transformador de 110 volts", disse.

A professora afirma que além de dar aulas no lado de fora resolveu tirar fotos para chamar a atenção e ter provas de que estaria comparecendo ao trabalho. Ela conta que espera ter resolvido o problema com a repercussão do caso.

"Hoje consegui dar aula dentro, mas tem sido alternado. Na semana passada, por exemplo, dei aula segunda e quarta debaixo da árvore, e na terça pela manhã ficamos embaixo da marquise porque choveu. Na terça à tarde a escola estava aberta, mas pela manhã apliquei prova fora. Assim tem sido", afirmou.

A professora afirma que concorda com o protesto dos colegas, mas preferiu não aderir à mobilização. "Eu tenho direito por lei de não aderir à greve. Não acho que o meu direito é maior que o dos outros. Acho que é uma grande vergonha o salário que recebemos, só que os alunos também têm direito de acesso à educação. Sei que preciso lutar por um salário pouco melhor, mas se isso implica em passar por cima de mais dos meus 600 alunos, eu discordo", disse.

Ela diz que participaria de outras mobilizações, desde que não prejudicasse alunos. "Sei que greve é o único modo de fazer chamar atenção. Mas pensei: já que tem tanta gente brigando, eu vou lutar pelo direito dos que são estudantes. Se fosse um protesto pra impedir o governador de ter acesso ao palácio, eu iria", explicou.

Direção reclama
A diretora da escola, Maurício Gonçalves, explica que, por causa da greve, apenas os três diretores da escola estão trabalhando -- todos os demais funcionários aderiram à paralisação. Mesmo assim, diz que não houve fechamento da escola para a professora.

"A escola está aberta, tenho todas as provas. Mas ela é a única professora que não está em greve. Estamos sem vigia, sem merendeira, sem pessoa de limpeza. Então, os três diretores estão se virando nos 30, e nem sempre dá para estar lá. A própria estrutura para funcionamento da escola está precária", disse.

Sobre as aulas na porta da escola, o diretor explica que, na semana passada, não foi possível algum dos diretores estar presente à escola no momento das aulas. "Hoje mesmo estou fora, e a secretária está em reunião no sindicato. O outro gestor está lá. É uma situação complicada, todos nós estamos trabalhando muito", afirmou.

Ainda segundo Gonçalves, a professora entrou com uma ação na Secretaria de Estado da Educação cobrando a abertura da escola. "O processo já está na mão da secretaria. Não sei porque ela ainda está insistindo em divulgar isso; o problema já sendo resolvido. Hoje mesmo ela deu aula dentro da escola", alegou.

O diretor ainda reclamou da postura da professora. "Temos 1.700 alunos, 14 turmas por turno, e ela está dando aula de 20 alunos. Ela não nos procurou para combinar horário, nada, e a gente estava aberto para tudo, mas enfrentamos dificuldades pela greve", pontuou.

Fonte: Uol Educação