Mídia / Jornal Fera

Problemas sociais no Brasil de hoje são herança de passado desigual

20/09/2013

Muitos dos problemas que encontramos na sociedade de hoje têm explicação na história. A água encanada, por exemplo, ainda não chega regularmente nas torneiras de muitas famílias do Brasil e, principalmente, do Nordeste. O assunto foi abordado pelo Projeto Educação nesta sexta-feira (20), pelo professor de história do Brasil Lula Couto.

Nas periferias de cidades como o Recife, a falta de água é um tormento diário. “Quando você analisa a falta de água e a dificuldade de a população mais carente ter acesso, você percebe que a população carente de hoje tem um vínculo com a população mais carentes do passado. É como se o estado continuasse a dar as costas, não atendendo o direito básico”, falou o professor.

A dona de casa Carmelita Otavia da Silva todos os dias tem que usar água de bacias e baldes, para poder sobreviver. “Não existe água aqui. Tem que ser água de chuva. E quando chegar o verão, a gente faz o que? Se não chover, não lava. Mas as contas estão pagas”, lamentou.

Na casa de Iranilton Costa, das torneiras também não cai nem um pingo de água. A máquina de lavar roupa foi dinheiro jogado fora, assim como a caixa-d'água de 2 mil litros. Todos os dias pela manhã, ele vai buscar água na casa da mãe, com um carrinho de mão. “Dou três, quatro viagens, dependendo do cansaço. A gente procura nosso direito, reclamando, mas só tem promessa. A gente paga, está em dia, é o nosso direito”, disse.

O problema também afeta a educação, pois alguns alunos são obrigados a voltar para casa por não estarem com a farda lavada. “O mesmo estado que oferece água é o estado que barra crianças na escola pública. Isso é uma contradição que marca o presente e a historia do Brasil. O Brasil tem, ao longo da história, diversos momentos de contradição, como na proclamação da República e Independência. São situações em que se percebe deveres e obrigação para a população, mas ausência de direito”, destacou Lula Couto.

Quando falta água, também falta cidadania, em qualquer lugar. A situação das periferias do Recife, por exemplo, não é muito diferente da encontrada no Sertão e Agreste nordestinos. As milhões de pessoas que estão cansadas de esperar pela água insistem em lutar pelo direito. “Nada hoje que o trabalhador tem, que o povo tem, foi dado, recebido. Partiu de luta, conquistas, através de movimentos sociais. Então, quando a população protesta, vai de encontro com a imprensa, estão fazendo exatamente aquilo que, no passado, os trabalhadores fizeram em 1910, quando exigiram melhores condições de trabalho e fizeram as primeiras greves”, finalizou Lula Couto.


Fonte: G1