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Pedagogia é para quem gosta de criança, vai dar aula e topa ganhar pouco? Veja mitos e verdades sobre a carreira

19/06/2017

Entre 2001 e 2015, 861.420 pessoas se formaram em pedagogia no Brasil, diploma atualmente obrigatório para quem quer atuar no ensino infantil e nos primeiros anos do fundamental. O curso é o segundo mais procurado no Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

Para ajudar os estudantes a entender como funciona a graduação em pedagogia e qual a realidade da profissão, o G1 examinou ideias que costumam ser associadas à carreira.
Abaixo, veja o que eles dizem ser mito ou realidade na carreira:

PARA SER PEDAGOGO, PRECISA GOSTAR DE CRIANÇA?
O foco do curso de pedagogia, em geral, é a primeira infância – estudar o desenvolvimento das crianças, a alfabetização delas e os conhecimentos que devem ser ensinados nessa faixa etária.
Após concluir o curso, o profissional estará habilitado a dar aula em educação infantil e no ensino fundamental I (primeiro ao quinto ano).

Apesar disso, existem outros campos de atuação para o pedagogo. “Muitos entram na faculdade porque ‘gostam de criança’, mas a profissão não se restringe a isso. O importante é ter interesse pela área de humanas e ser atento a questões educacionais”, explica Débora Jeffrey, coordenadora do curso de pedagogia na Unicamp.

A ÁREA DE ATUAÇÃO SE RESUME À SALA DE AULA?
Com esta formação é possível também trabalhar no EJA (Ensino de Jovens e Adultos), na formulação de materiais didáticos e de cursos à distância ou em cargos de gestão escolar, como diretor, coordenador ou orientador pedagógico.
Existem também espaços não-escolares que empregam pedagogos: ONGs, hospitais, museus e o setor de recursos humanos de empresas. “Percebemos a tendência do mercado de requisitar pedagogos em campos como atividades recreativas para terceira idade, por exemplo”, completa Débora.

É PRECISO FAZER ESPECIALIZAÇÃO?

O curso de pedagogia sofreu uma mudança nas diretrizes curriculares em maio de 2006, na Resolução nº1, do Conselho Nacional de Educação. Antes disso, o aluno escolhia, durante a graduação, uma habilitação específica – ou seja, uma área da pedagogia em que se aprofundaria, como educação especial ou administração escolar.
A partir dessa modificação de 2006 deixou de existir a habilitação e o curso passou a ser mais generalista. “A intenção foi abrir mais portas. Depois de formado, o aluno pode fazer um curso de psicopedagogia, uma pós-graduação lato sensu ou um estudo na área de gestão, por exemplo”, explica Paulo Fraga, coordenador de pedagogia na Universidade Mackenzie (SP).

A coordenadora do curso na Unicamp concorda: tornou-se necessário, depois dessa mudança na estrutura do curso, fazer uma especialização.
“Podem ser cursos em universidades com MBA, por exemplo. O mestrado e o doutorado são mais voltados para a área de pesquisa acadêmica, em assuntos como didática e metodologia”, afirma Débora. “Atualmente, a nova modalidade é o mestrado profissional, voltado para quem atua na área e quer investigar algum tipo de pesquisa de intervenção profissional.”

PEDAGOGO GANHA MAL?
No caso dos professores de educação infantil e ensino fundamental I que sejam concursados e deem aula em escolas públicas, o piso salarial mensal para 40 horas semanais é R$ 1.917,18.
“O problema é que nem todas as prefeituras têm cumprido esse piso. Existem outras variáveis na remuneração, dependendo de cursos de formação continuada ou de especialização”, explica Débora.
“Alguns estados têm tido problemas porque os docentes estão recebendo gratificações pontuais, em vez de aumento salarial”, diz. Já na rede privada, a remuneração varia mais. “Tem salários de R$ 6 mil, por exemplo, em alguns colégios. Depende muito da instituição. O ideal é buscar uma escola que busque sempre qualificar o profissional”, diz Paulo.

NÃO FALTA EMPREGO, MAS É UMA PROFISSÃO DESVALORIZADA?
Além da questão salarial, existem outras queixas acerca da carreira em escolas – salas superlotadas e falta de infraestrutura, por exemplo. Débora aponta que a desvalorização do pedagogo é também social.
“Muitos entram no curso com pouco entendimento da importância da profissão”, afirma. Paulo, do Mackenzie, concorda: “A repercussão da profissão na sociedade é muito negativa, o professor é visto como coitado, abnegado. É uma questão simbólica importante. Temos falta de professor e ainda assim o país está semeando o sucateamento da educação”, completa. Ele menciona que raramente as famílias estimulam que os filhos sigam esta carreira.

Fonte: G1 - Educação | Por Luiza Tenente, G1