Mídia / Jornal Fera

Alunos no sertão do RN usam lixo para criar aparelhos para deficientes

09/09/2015

 Na “pátria educadora”, uma escola pública encravada no sertão do Rio Grande do Norte dá o exemplo. Três horas e 172 km separam a capital, Natal, da pequena Currais Novos, de 44 mil habitantes. É lá que um grupo de 33 alunos do terceiro ano do ensino médio realizaram um feito: superar 364 projetos de 8.600 alunos espalhados por todo o Brasil e vencer um concurso nacional ao transformar lixo em sofisticados aparelhos voltados a deficientes físicos.

Rodeada pela caatinga, Currais Novos estava em festa no dia 2 de junho, data da entrega do prêmio criado pela Samsung. Por volta das 18h, famílias inteiras circulavam curiosas pelos arredores da escola estadual Tristão de Barros, o novo orgulho da cidade, conhecida na região por abrigar a maior mina de xilita (um mineral de cálcio) da América do Sul. “Sim, estamos no mapa”, divertia-se um dos criadores, o aluno Bruno Henrique de Oliveira, de 17 anos.

Oliveira e seus colegas venceram o concurso ao inscreverem três invenções. Na primeira, os alunos retiraram uma lente de uma câmera de celular e acoplaram a um mouse. Ao passar o objeto sobre o texto de um livro, por exemplo, as letras reproduzidas na tela de um computador aumentam em até 20 vezes. Foi pensada para pessoas com baixa visão.
Também para deficientes visuais, os estudantes uniram uma bengala, uma pulseira, um vibracall de celular e um sensor de automóvel. Tudo achado no lixo. Rearranjados, se transformaram em uma espécie de "bengala do futuro".

Pequena e leve, não precisa nem tocar o chão. Graças ao sensor do automóvel, encontra os obstáculos à frente e aciona o vibracall na pulseira, indicando a necessidade de desviar. No último projeto, uma cadeira de rodas elétrica guiada por um velho controle de videogame utiliza uma bateria realimentada pelo próprio uso.

Por vencer o concurso “Respostas para o Amanhã”, também realizado em outros seis países da América Latina, a escola ganhou uma sala interativa. A empresa reformou o antigo laboratório de informática, instalou banda larga, construiu móveis planejados para ajudar no trabalho em equipe, entregou 50 tablets e uma TV de 60 polegadas. “Nosso laboratório estava obsoleto”, conta a diretora Elba Alves.

Sala Interativa
Alunos posam para a foto na sala interativa inaugurada no dia 2 de junho
A diretora diz sem rodeios que a escola não ficou boa de um dia para o outro. O prêmio seria uma resposta ao sistema pedagógico da escola, que há anos tira os alunos da sala de aula para ensinar na prática o que aprenderam em classe.
Um exemplo seria o incentivo ao método de ensino do professor de física Ivanês Oliveira Alexandrino, responsável por orientar os alunos vencedores. “Há três anos já trabalhamos com laboratório alternativo. A gente sempre montou, desmontou e remontou objetos, especialmente aqueles descartados pela população”, conta ele.

O resultado, além da sala de informática, se traduz nos convites que a escola vem recebendo de todo o Brasil para expor as invenções e falar sobre seu método de ensino. “Esse prêmio não é o fim, mas o meio para que a gente tenha mais professores que colaborem dessa forma”, torce o professor.

Para Mario Laffitte, vice-presidente de marketing da Samsung na América Latina, o objetivo principal do concurso é incentivar projetos de ciência, física e biologia que ajudem a comunidade ao redor da instituição de ensino. “Esse foi o caso do projeto que venceu. E é muito bom premiar uma escola do interior do nordeste.”

Uma escola pública no sertão nordestino com ainda mais razões para comemorar: o Tristão de Barros aprovou 41 alunos em universidades públicas em 2014, nove deles participaram do “Respostas para o Amanhã”.

Fonte: Carta Capital