Mídia / Jornal Fera

Alfabetizada aos 64 anos destaca apoio de professora: 'motivação'

15/10/2013

Humilhação. Com esta palavra a dona de casa de 69 anos Jacira de Jesus resume o que sentia toda vez que chegava uma correspondência para ela há cerca de seis anos. Dona Jacira era analfabeta, e só conseguiu concluir o aprendizado de ler e escrever aos 64 anos.
“Eu sempre tive uma vontade muito grande de estudar”, conta. “Eu via uma pessoa pegar uma caneta e escrever e achava a coisa mais linda”, completa a dona de casa, que hoje estuda para concluir o ensino fundamental. [Assista em vídeo os depoimentos de Dona Jacira e da professora Verônica Santana]

Uma das pessoas responsáveis pelos avanços de Dona Jacira é a professora Verônica Santana, coordenadora pedagógica da educação de jovens e adultos de Salvador. “Eu considero a alfabetização a etapa mais complexa na educação porque é quando o indivíduo está se apropriando da linguagem escrita”, afirma a professora.

Para a educadora, a principal diferença entre ensinar para crianças e ensinar para adultos é a motivação. “A presença da criança na escola está muito impregnada pelos pais, enquanto os adultos estão lá por querem ou porque precisam”, diz. Entretanto, esta autonomia também tem um lado negativo. “A gente vê muita reclamação do cansaço físico. Muitos alunos trabalham até dez horas por dia e chegam exaustos na escola, sem contar as outras preocupações da vida de um adulto”, explica.

Mesmo entre tantos desafios, Verônica aponta que o principal obstáculo na hora de alfabetizar um adulto é superar as dificuldades que os próprios alunos impõem a eles mesmos. “Muitas vezes eles não acreditam que conseguem, vêm com aquela história de que papagaio velho não aprende a falar, e é papel do professor fazer com que eles acreditem no potencial que possuem”, diz.

Foi superando todas as dificuldades que Dona Jacira realizou o sonho de ler e escrever, o que gerou uma profunda mudança na vida da dona de casa. E tudo isso não seria possível sem a ajuda humana e fundamental de uma boa professora. “O principal foi a autoestima. Hoje eu mesmo considero que já estou em um nível avançado para o que eu era. A professora me passou o livro ‘Capitães da Areia’, de Jorge Amado, que tinha 275 páginas, e eu li todo”, destaca orgulhosa. “Se houvesse mais professoras como Verônica no mundo, muito mais gente seria alfabetizada”, completa a aluna.

Fonte: Uol Educação